Ainda ontem assisti a um nascimento.
Uma rua vazia encheu-se de beijos pendurados em candeeiros, onde fadas
azuis cintilantes percorriam com a língua a geometria dos corpos que
passavam.
Há horas em que estou quase feliz. Tenho um cd novo da Fnac e
fotografias por revelar do perfume do teu pescoço.
Mas cada vez durmo menos, porque tenho um espelho de elevador com
trunfos na manga que me diz todos os dias em que regresso a casa:
– Se me ajudares a pisar o chão cheio de flores que está lá fora não te
mostro os reflexos das lembranças que tens afogadas nos olhos.
Hoje, finalmente abri a boca em espanto e reparei que tenho um coração perdido na língua e 5 minutos de vida.
– Quero dançar no teu corpo e sentir o meu peso nas tuas mãos.
Ana Saramago
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Doce visão das coisas