As meninas são todas como eu:
a guardar astros que serão bordados,
a recolher os olhos deslumbrados
depois duma viagem pelo Céu.
E vestem blusas para esperar a tarde
que há-de surgir no fundo da vereda,
e crispam dedos de sonhar a seda
que a tarde trouxe e na cantiga arde.
Fincam braços no chão do parapeito
e debruçam o corpo para a Lua,
e temem vultos negros pela rua
e sentem fogo a iluminar-lhe o peito.
E deitam-se nas camas encantadas
e olham o luar correndo nas campinas,
e são felizes porque são meninas
e porque a vida as vai fazer mudadas.
As meninas são todas como eu fui
- Menina mais menina que existisse! -
Ninguém me disse o que para mim eu disse,
e eu inventei o que hoje se dilui...
As meninas são todas da Saudade
das tardes sós de chuva e poesia.
(Ninguém me disse o que eu a mim dizia
- minha conversa doida com a vontade!)
As meninas são todas como eu:
a guardar astros que serão bordados,
e a recolher os olhos deslumbrados
depois de uma viagem pelo Céu.
Natércia Freire
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