quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Me escreve uma carta


Dessas cartas simples, que mais parecem bilhetes e que soam a mansidão dos dias.
Havia um tempo em que eu desejava tanto a vinda do carteiro. E lá ia eu vasculhar as correspondências para saber algumas palavras de encanto no meio de tanta carta. Umas, era para minha irmã mais velha. Curso por correspondência. Um instituto que ensinava a bordar, costurar, pintar e tudo mais que se ensina hoje, só que nessa época, era por correspondência.
Outras, dos parentes distantes, contavam desde o nascimento dos filhos, do primo que casou. Da tia que enviuvou, do cavalo que nasceu…
Não havia nenhuma carta endereçada a mim. Por que não havia quem escrevesse.
E hoje ainda não há.
Já não há cartas mais, nem envelopes com a tarja amarela e verde. Os parentes que escreviam, alguns morreram, os que nasceram usam a internet e não há mais tanta novidade que o Facebook não traga de imediato.
Hoje, o que chega pelos correios são as faturas do telefone, da conta de luz e de água.
Sinto falta do diálogo feito entre as letras e eu, e o papel de carta decorada de coraçõezinhos.
Me escreve uma carta, e nela me relate tua vida, teus sonhos e até tua angústia. Fala dos medos, das coragens e da vontade absoluta de ser feliz.
Ou ainda assim, mesmo que não consiga escrever nada, mande-me teu perfume para eu sinta sua presença aqui.

Mariana Gouveia

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