quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Carta à Janeiro


Desta vez, trago-lhes notícias do mundo real.

Ele é muito real.

Nem tão feio quanto dizem e nem menos assustador do que pensávamos. Mas descontínuo e mais intrigante que o telescópio newtoniano. Há tanta ainda, mágica no ar, que eu poderia sufocar.
Agora, chove manso, o aroma que se desprende das folhas do esbelto eucalipto, invade as janelas que entardeceram de asas abertas. Só assim te escrevo. Quando o vento ganha algum perfume.
Por falar em árvores, as que foram plantadas por toda a extensão da minha rua que tem nome de Lagoa, gosto de destacar, floriram.
Uma vizinha palpiteira deu de me chatear dizendo que não eram plantas de florir, mas esta semana ao abrir a janela, alí estavam sorrindo rosa-claro. Eu ralharia-lhe o engano, não fosse seu sumiço deveras oportuno. Cheguei até a pensar que flores eram seres extremamente vingativos e de audição apuradíssima. Não fosse pela chuva delas que tomei numa sexta-feira destas passadas, indo ao trabalho. Uma região de árvores centenárias. Ventava fresco e as florzinhas amarelo-ouro das altas Tipuanas iam desprendendo-se de seus galhos, quase que em câ…me…ra len… ta, e caindo por cima da vida da gente que passava. Por Deus, quase cantei o Hino Nacional! Há coisas que só acontecem neste país. Penso eu, em minha humilde bagagem de quem só visitou Piraporinha do Bom Jesus.
Dalí em diante, pensei que em Janeiro eu seria feliz. Não que já não seja. Mas não é desta felicidade amiúde que eu falo. É bem outra. Ando até a conferir a sinastria, porque acredito que entre as doze constelações, uma combina com a minha.
Reformei algumas esperanças. Inventariei sonhos antigos por ordem de importância, não data. Comprei selos. Escreverei para longe e para aqui do lado. Só pelo capricho de dar mais poesia à vida dos carteiros.
E se o amor inquilino quiser entrar. Eu deixo ficar.

Zidna Nunes Ou Ziris

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